quarta-feira, 10 de junho de 2015

Dilma lava as mãos mais uma vez

A sra presidenta do Brasil vai acabar com uma doença de pele nas mãos se continuar nessa lavagem constante. Todo mundo sabe que excesso de limpeza tem consequências. Se não botar a mão na lama deixa de ser humano.

E é de humanidade que precisamos falar: mortes humanas. O problema das mortes de mulheres em decorrência de abortos não é um tema de ordem religiosa, não é de ordem criminal, não é um tema de ordem política (pelo menos não deveria ser); é um tema de saúde pública.

Todos sabemos que a maioria da população é contrária a legalização do aborto, porque a maioria da população não diferencia suas crenças religiosas dos interesses civis. Apesar de pretendermos um Estado democrático, onde a opinião da maioria deva ser atendida, estamos ainda no começo da transição entre uma robotização da ditadura e uma democracia de fato, de livre pensar.

O papel do Estado, nesse momento de transição, é mais difícil, delicado e necessário do que em qualquer outra fase. Para atingir a democracia de fato é fundamental dar vozes a todos os seguimentos da sociedade, dar direitos civis, dar condições de saúde, alimentação e educação. Antes disso, toda administração pública fica comprometida.

Filhos da ditadura que somos, a maioria de nós não quer dar vozes a todos os seguimentos da sociedade. Fazemos o que então? Esclarecemos a todos da importância da igualdade de direitos e, no próximo milênio, quando a maioria das mentalidades concordarem, daremos direitos às minorias excluídas? Até lá, continuamos a ver negros, homossexuais, trans e travestis, mulheres, pobres, umbandistas, etc, etc,etc, serem mortos, violentados, desrespeitados, submetidos ao poder normativo estabelecido???

Qual é o papel do Estado nesse momento?

Seria ótima essa discussão de qual é o papel do Estado nesse momento, mas, nesse momento, não estamos nem discutindo o papel do Estado, porque nosso Estado está por demais comprometido para ser um Estado.

Não sou a favor da nenhum tipo de centralização do poder pelo Estado, longe disso. Mas, há uma diferença entre ser um Estado centralizador e ser um Estado executivo. Quero dizer com isso que o Estado executivo não impõe leis ou normas a partir do seu próprio interesse, ou do grupo que o sustenta (como é na ditadura e como temos visto, inclusive). O que estou chamando de Estado executivo é um Estado de princípio democrático. Porém, confunde-se democracia com opinião da maioria. Democracia não é a opinião da maioria. Democracia é a igualdade de direitos, mesmo quando isso significa a opinião de uma minoria. A sra. presidenta sabe disso. A opinião da maioria só é interessante nos objetivos político-eleitoreiros, mesmo quando estes são contrários à democracia.

Uma lógica simples, e de tão simples, revela que a posição assumida por Dilma na seguinte entrevista:

Para Dilma, Estado não deve entrar na questão do aborto.


é um posicionamento bastante demonstrativo da sua total submissão às forças político-econômicas que estão atuando dentro e fora do Congresso. É em calcanhares de aquiles como a defesa da causa indígena ou a defesa do aborto livre que finalmente concluímos que o Governo de Dilma não é um governo que prima pela democracia. Está submetido à ditadura do capital.

Poderíamos argumentar que a tal governabilidade que caracteriza essa ginga sem fim da presidenta, é uma estratégia para atingir sim, um Estado democrático, porém dentro de condições mais propícias que as do momento. Ou seja, ela vai jogando de todos os lados para permanecer no poder e, aos poucos, conseguir estabelecer as mudanças necessárias. Temos que convir que o jogo não está nada fácil: o cenário político brasileiro é caótico, risível, ignorante e politicamente infantil. Temos hoje em cargos representativos anomalias humanas que não serviriam nem pra síndico. Nesse sentido, valorizo muitas conquistas do PT no governo esses anos todos.

Só que a Dilma está nessa fogueira porque está priorizando os grupos que vão derrubá-la. E enquanto tenta se manter no poder, outros poderes estão se consolidando e direcionando as decisões do país.

Que o jogo político é complexo ninguém tem dúvida. Minha dúvida é se as mortes de hoje valem à pena por supostas conquistas no futuro.

Na minha opinião, não. Na minha opinião, o futuro só existe enquanto suposição. Na minha opinião, a defesa de direitos é urgente e prioritária. Na minha opinião, a sra presidenta está sendo omissa e covarde; uma mulher sem peito e sem convicção.

Ou, talvez, eu esteja enganada e a convicção da sra presidenta seja exatamente essa que ela expressa na sua omissão.

De uma coisa eu não tenho dúvida: isentar o Estado dessa decisão quanto a legalização do aborto e jogar o abacaxi para as mãos desse Congresso conservador, que tende a extremar uma posição contrária, vai colocar nossa presidenta contra a parede. Então, no paredão, ou ela erguerá os braços pedindo clemência e baixando a cabeça ao poder vigente, ou ela romperá os botões da sua camisa de força, expondo seu coração valente, enfrentando uma bala contra o peito.

Hahahahahahaha, pena que o tempo do romantismo acabou faz tempo!!

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