quinta-feira, 8 de março de 2012

DIZIMO: pedágio no caminho de DEUS





Não tem nada que deixa o ser humano mais confuso do que religião, no intuito de esclarecer sobre o sentido das coisas, deixa as coisas sem sentido nenhum. Não tem. E quanto mais nova for a dita cuja, mais confusa parece. As bem antigas ainda preservam uma lógica melhor estruturada para sustentar seus conceitos e pré-conceitos, mas as religiões judaico-cristãs são de deixar os cabelos em pé. A confusão que os criadores do cristianismo fizeram nos conceitos judaicos, já muito contraditórios, gerou praticamente uma palhaçada.

Não existe nada mais contraditório, no pior sentido do termo, do que as religiões pós Cristo, com todas suas derivações, até os dias de hoje com essa multiplicidade de salinhas cheias de cadeiras de plástico e pessoas com microfones gritando trechos bíblicos e dando explicações estapafúrdias sobre esses mesmos trechos, tudo pra poder passar o chapéu depois.... na verdade, mudou muito pouco parece, a não ser pelo microfone e as cadeiras de plástico, e pelo chapéu que agora é maquininha de cartão de crédito, mas a prática é antiga; até mais antiga que a própria cristandade.

Seria pertinente fazer uma lista de todos os aspectos “indignatórios” das condutas religiosas em geral, e em particular das condutas religiosas “em nome de Jesus”; não para tirar do foco crítico de todas as outras religiões, de forma nenhuma, mas porque as “em nome de Jesus” estão mais próximas e acessíveis, inclusive devido ao controle midiático que vem adquirindo; e também porque se abre uma portinha dessas salinhas em cada esquina todo dia. Aliás, é bem curioso aproveitar que a figura emblema, no caso Jesus, andou quebrando uns templos em revolta contra a arrogância de suas riquezas e justificar que qualquer lugar é apropriado para um encontro religioso; assim, diferente da montanha na qual o Cristo fez seu belo Sermão, qualquer garagem é passível de ambientar o gritado contato religioso. Que bom. E se mais tarde o ardor da fé crescer e nos tornarmos muitos e passarmos para grandes galpões, e depois comprarmos prédios teatrais sem incentivo cultural para virar igreja e no ápice de nossa conquista construirmos templos que custam R$ 10 milhões, tudo bem.

Ou: ainda bem que Cristo já foi crucificado, pois ele podia ficar invocado com o tamanho da coisa e sair quebrando tudo de novo..... ufa!!!

Como a pretendida listinha de indignação é quase infinita, será feita uma seleção (nossa que difícil escolher o que confunde mais); vamos tentar.

Sem hierarquia na escolha vamos pensar sobre o DIZIMO.
(Antigamente quando a gente queria refletir sobre um conceito começava abrindo o dicionário para partir da etimologia da palavra. Hoje em dia a gente “dá um Google”, colhe umas primeiras informações no Wikipédia e depois tem a liberdade de ler qualquer coisa; aliás o maravilhoso é poder encontrar os prós e contras, os conceitos e pré-conceitos, as verdades e as mentiras, os achismos pra todo lado.... a realidade é múltipla!!!)

Obviamente os dízimos têm o objetivo de colaborar no sustento do templo ou do sacerdócio de determinada religião. Não dá pra generalizar muito, pois existem divergências sobre o assunto, mas o fato é sempre o mesmo: como é que faz pra manter materialmente a vida espiritual?????? Tem um exemplo extremo que estabelece que para se dedicar à vida espiritual tem que abdicar da material e passar a fazer um jejum de tudo, consumindo o mínimo necessário pra ficar em pé, quer dizer, sentado com braço esticado pra pedir esmola. E tem o exemplo do extremo oposto que estabelece templos feitos em ouro, construídos com o sangue de escravos, para dar “valor” à representação e espaço de oferendas à divindade.

Na cultura ocidental, judaica e cristã, vimos a formação de uma cúpula de poder, teoricamente designada pela divindade máxima e devotada ao serviço, que reuniu um tesouro secularmente considerável. A reunião dessa riqueza não se deu só por vontade da população fiel, mas sob tortura, apropriação indevida e etc, etc, etc.

Os conceitos humanos amadureceram e as classes de explorados “reivindicou” algumas mudanças nas distribuições, não tanto das propriedades, mas ainda dos direitos: leis foram criadas e a “festa” da apropriação indevida ficou um pouquinho mais restrita. Com o passar do tempo, guardadas as devidas proporções e considerados os limites das leis que tentam proteger os explorados, a apropriação indevida de antes hoje se chama DÍZIMO.

Conclusão um pouco forçada? Tomara, pois o objetivo é forçar a barra!!!

Antes ainda insistimos em refletir: como podemos fazer para tornar materialmente viável uma atividade religiosa já que deveria, POR NATUREZA, não ser de cunho comercial?

Existem diversas respostas sendo aplicadas a essa pergunta, algumas estão funcionando outras também... porém algumas funcionam para todos os participantes e outras funcionam bem só para alguns. Os velhos probleminhas da distribuição de renda que ainda não solucionamos nos âmbitos sociais, tomam conta dos agrupamentos religiosos: poucos com muito e muitos com pouco, dando o que lhes falta para aqueles que tem sobrando.... uma matemática que a gente já conhece bem. E haja livro de auto ajuda pra socorrer esses que estão sem nada pra ensinar COMO se tornarem os poucos prósperos.... ensinar o impossível que é: muitos serem poucos!! Bom enfim, tem gente cheia da grana e no poder, e gente sem grana nenhuma trabalhando feito camelo e dando uma porcentagem do NADA que ganha para colaborar no sustento da sua igreja.

Falando em camelos, deve ter muito camelo passando em buraco de agulha, pois se antes o céu não era permitido para os ricos, agora eles estão comprando camarote por lá.

Adendo 1 sobre a porcentagem: encontramos nos livros de educação financeira a principal orientação para enriquecer que é aplicar 10% do seu ganho mensal, não importa o quanto seja esse valor. Nos referidos livros o objetivo é o enriquecimento daquele que ganha e aplica seu dinheiro, e por enriquecimento define-se o poder de realizar alguns sonhos materiais da PRÓPRIA pessoa.

Adendo 2 sobre a porcentagem: encontramos em diferentes orientações religiosas e de cunho espiritual que para adquirir bênçãos ou atrair milagres em sua vida é fundamental doar 10% do seu ganho mensal, não importa o quanto seja esse valor, porque é dando que se recebe e compartilhar é a regra principal para receber. Neste caso quem enriquece não é quem ganha e doa, e por enriquecimentos define-se o poder de realizar muitos sonhos materiais de quem recebe a doação.

Não é de se duvidar que haja extrema alegria no fiel que doa parte do seu esforço/sacrifício para a igreja/templo que representa o eixo de vitalidade em sua vida, que concentra o sentido conceitual da sua existência. É sublime e restabelecedor poder participar concretamente de uma obra que tem significado central em sua vida. Não há dúvida nesse sentimento de fé e realização. Essa ideia de que o sacrifício fortalece o pacto entre a pessoa e a divindade é arquetípica e a força desse arquétipo é central na própria religião. Afinal de contas é o SANGUE de Jesus que tem poder, sua parte que foi derramada em sacrifício. Que bom que pudemos trocar a doação de nosso sangue pela doação de algumas moedas... apesar que essas moedas são para a grande maioria o próprio sangue. E os pactos sanguíneos são encontrados em diferentes religiões em todos os tempos.

E então se confundem 2 objetivos diferentes:

*      por um lado o dízimo, essa doação, pretende dar suporte material para que a obra religiosa possa ter continuidade pois afinal NADA em nosso mundo é de graça, nem uma medalhinha de Nossa Senhora!!!

*      por outro lado, para tornar essa doação uma obrigação, apesar de estarem tentando transformar em imposto obrigatório, o argumento que torna o dízimo uma vontade constante do fiel é a crença de que aquele valor trará benefícios particulares ao doador. Nesse segundo caso, aquele que doa não está tão interessado em manter a igreja aberta senão para manter aberto o seu veículo de comunicação com o Supremo.

Daí concluímos que:

1. O fiel não consegue acessar o plano superior sem o auxílio dos templos, sacerdotes, rituais e dízimos, fundamento contra o qual o próprio Jesus de Nazaré se contrapôs e esse foi um dos sentidos principais da sua atitude revolucionária;

2. O fiel não está nem um pouco preocupado com a humanidade em geral, com o enriquecimento coletivo ou seu desenvolvimento espiritual, o que ele pretende é obter milagres e benefícios para si mesmo; se estiver doente ou com parentes doentes pede saúde, desempregado pede emprego, viciado pede cura, solteira pede marido e TODOS pedem dinheiro.

De qualquer forma o tempo todo está se afirmando para o fiel que:

*      ele sozinho não pode contatar a divindade;
*      ele precisa mostrar/provar com dinheiro sua vontade de prosperar;
*      é necessário ir até um “lugar” para orar;
*      a divindade dá mais milagres para quem oferece valores mais altos;
*      ele não é nada diante da divindade;
*      se ele não prosperou é porque ainda não mereceu;
*      quanto maior e mais linda nossa igreja/templo mais feliz ficará a divindade com nosso esforço;
*      “sangue de Jesus” só tem poder através do pastor/sacerdote;
*      etc;
*      etc;
*      etc;

Enfim, o DIZIMO parece ser aquele tipo de pedágio que vc é obrigado a pagar pra seguir pela estrada enquanto na lei está escrito que temos o direito de ir e vir.

Comparações estapafúrdias à parte, tudo na nossa vida custa dinheiro, nossas necessidades/direitos mais básicos como comer, morar, conhecer, se curar, se divertir.... e não bastasse, pagamos pedágio no caminho de Deus...

Até aqui já explicitamos o quão confuso é o mundo religioso, sem sequer termos adentrado em questões do Espírito. A parte do desenvolvimento espiritual fica meio em segundo plano, pois afinal de contas a única coisa que se pode fazer em grupo é a leitura dos textos religiosos, as orações, cantos e rituais, já que o desenvolvimento em si é absolutamente individual e pessoal; não há regras para que aconteça e não se estabelece através de valores materiais.

Então, pra que pagar o pedágio se o caminho pra DEUS seguimos sozinhos, nus, no silêncio?




César e Pedro Mariano em SE EU QUISER FALAR COM DEUS




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